20080827
4 Pensadores

TESTEMUNHA OCULAR -Parte I

quarta-feira, agosto 27, 2008


Fortaleza de lua cheia. O psicólogo estava “cheio” também. Recheado de indignação por presenciar várias vezes a sua “filha do sol” em negro abandono. Ali, na chamada rotatória da Av. Aguanambi, às vinte e três horas, nosso personagem voltava para casa. Lembrou como sua cidade era única... a única que possuía um semáforo debaixo de um viaduto, o da Av. 13 de Maio, e mais quatro dentro de uma rotatória (mas, rotatória e viaduto não dispensam semáforos? Ou a “engenhocaria” fortalezense quer renovar?). E o projeto inicial era que a velha Aguanambi passasse por sobre a 13 de Maio em um único e simples viaduto... sem semáforos e com passarela de pedestres... é, porém, o bicho homem gosta de complicar, pois não podia embotar a fachada de um enorme hospital, nem deixar de fazer a praça do dono da farinha! Relações de poder... com certeza versaria o mestre Foucault. Bem, a reflexão não é da rotatória, mas de uma situação experienciada.

O psicólogo saiu daquela rotatória e foi para a BR-116. A uns cem metros dali construíram um pólo de lazer um tanto fraquinho. Surgia a cena: dois assaltantes voaram sobre um motociclista, derrubaram-no sobre o asfalto e tomaram dele tudo o que puderam. O psicomóvel ficou estático! A cem metros não dava para ver os rostos dos meliantes, mas dava para reconhecer que empunhavam armas de fogo. E dava para ver a violência com que “sugavam” sua vítima. Após surrupiarem o motociclista saíram tranqüilamente! Não basta ser ladrão, tem que violentar. E o motociclista? Saiu correndo desvairadamente abandonando a moto no local... é claro, só importava sua vida! O pensador, que observava o fato, pensou que poderia acionar o 190 pelo celular... ah, só dava ocupado! Aquelas duas criaturas desapareceram na noite. Porém, a violência permaneceu naquele lugar. As muitas violências que existem em nossa cidade: a social, a física, a moral, a psicológica entre muitas outras. E no âmago da violência há o egoísmo e a agressividade impetrados em nossa sociedade moderna e competitiva.

Uma certa dose de agressividade existe desde a vida infantil, para comer e para brincar, até a vida adulta, para defender um ideal ou conseguir um objetivo... até aí há o lado positivo. No entanto, surge a agressividade em um grau que impede a convivência social: para o pensador Freud a agressividade nasce de impulsos que misturam o agressivo ao sexual: um gesto violento pode trazer um significado sexual e um gesto carinhoso pode significar uma agressão contida. Tudo isso na dimensão do inconsciente! Portanto, para quem toma o que é do outro, não interessam as leis sociais e éticas, mas a satisfação do seu prazer de conseguir aquilo que quer (um significado que é sexual ou, quem sabe, de carência afetiva). A violência urbana não revela só a falta de ética nas relações sociais, mas também a exclusão em que está submersa parte da cidade, a falência das instituições públicas que não sabem mais como validar suas próprias leis ou mesmo dar condições para que os sujeitos internalizem e valorizem as regras de convivência, em resumo, a valorização do outro e da vida! E o psicólogo teve insônia de tanto pensar sobre aquela noite sombria.

4 Pensadores:

Anderson Marin Lima disse...

Meu Deus... Fico imaginando a cena, com uma revolta quase inútil... Essas coisas me deixam indignados.. Quanta falta de respeito pelo ser humano. Onde o mundo vai parar? Falta tudo: faltam leis, faltam medidas socioeducativas, faltam medidas que coibam a violência e punições que realmente eduquem, resocializem e corrijam os infratores... Falta vontade aos governos, falta compreensão e unisão às pessoas... Falta amor pelo próximo... Falta respeito pelo ser humano...

Anônimo disse...

Pultz que cena, hein?!!
Infelizmente é a nossa realidade, e o pior ngm faz nada pra isso mudar!!!
Abraços queridos usineiros!!

Brisa disse...

Violência, violência!
O mundo em que vivemos está um caos, a beleza dos lugares vem sendo retirada com tanta violência!!
Abraços

Éverton Vidal Azevedo disse...

Resolvi ficar logo por aqui e ler a primeira parte. Gostei, achei muito criativo a forma como vocè vai descrevendo a realidade da nossa sociedade, por meio da visao do psicólogo.

Abraçao.

 
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