20080507
One Pensadores

FRAGMENTOS DE UMA MENTE ANALÍTICA

quarta-feira, maio 07, 2008


Ceará “aperreado”. Fortaleza chuvosa. Hoje, pela manhã, o psicólogo acordou doente. Sentiu-se febril, com dores no corpo e uma miserável dor de cabeça. Ah, não!... Seria dengue? Ai... que cansaço... mas o cansaço poderia ser preguiça também. E os outros sintomas? Melhor do que ficar parado especulando o que seria ou não seria é pular da cama e procurar um médico. Mas, se for dengue? Ai surgiu aquele lado neurótico fóbico do psicólogo: se for dengue a culpa é do vizinho, ele sim, é um sujeito desleixado, que deixa qualquer vasilha encher de água e agora estou doente por causa dele! A casa dele é um lixo! Na verdade a culpa é uma batata quente que sempre desejamos passar pra frente, desde os primórdios da humanidade... Adão jogou a culpa em Eva que jogou a culpa na serpente e esta por sua vez, não tendo em quem por a culpa, passou a culpa para o fruto da árvore! Hitler colocou a culpa nos judeus pelo atraso da Alemanha (e os judeus não sabiam que Hitler sabia que eles estavam ricos demais para continuarem vivos). O político culpa o seu antecessor e tudo vira um círculo... é uma gestalt! Ou seria uma fuga? Ah, se nós aceitássemos a nossa própria culpa! E o psicólogo ainda está se vestindo... E a dengue? Corre, corre logo para o hospital! Mas, qual? O IJF mesmo porque ele não tem plano de saúde! Tem que apelar para o SUS! Mas o que é SUS, hein? Deixa ver... Sistema de UTI Sem Saída? Não, não, aí seria SUSS. Sociedade dos Urubus Sorridentes? Não, muito macabro. Ah! Sistema, porque deveria ser um conjunto de elementos interconectados harmonicamente, de modo a formar um todo organizado (que coisa!). Único, porque pior do que ele não existe em nenhum lugar desse planeta. De Saúde, porque você tem que orar muito para não perdê-la e nem ter que ir para o SUS! Bem, melhor agora que o nosso psicólogo conseguiu chegar ao IJF.
Entrou por uma esquina. Não era ali a entrada da emergência. Entrou por uma rampa no meio do quarteirão, ali só os muito graves que chegavam nas ambulâncias. Foi até a outra esquina... ah, finalmente... a emergência era ali, por uma rampa descendente! Recepção: tem que pegar a senha! Número da senha impressa no papel cedido ao psicólogo: 585. Número da senha divulgado luminosamente no “display” da máquina: 25! Daí por diante o jeito foi sentar e esperar... e o psicólogo começou a observar... e analisar... o corredor repleto de gente doente, uns em macas, uns em banquinhos improvisados e outros se refugiavam na cerâmica mesmo. Pense num lugar feio! Mas, por acaso, há beleza na doença? O hospital, desde a sua fundação, sempre foi um lugar associado à doença e a doença, por sua vez, vinculada à famigerada caveira de foice: a morte! É sim! Dos tempos medievais até poucas décadas atrás as pessoas eram levadas aos hospitais para morrer... era a tradição. Quem tinha cura se tratava em casa mesmo, existia até a figura do médico da família! Pensando bem, por que a Santa Casa fica perto do cemitério São João? E por que o IJF está rodeado de funerárias? Seria a antiga tradição que ainda resiste? Não é possível! Afinal, a medicina evoluiu muito! Certo, mas o hospital é feio porque está associado à morte. Talvez não. A morte é um fato complicado: ao mesmo tempo em que pertence à vida e deveria ser uma continuação dessa vida, nos faz lembrar quão finitos, limitados nós somos. Uma descontinuidade dentro da continuidade do tempo. Então, quando chegamos a um funeral, não é somente a perda que nos incomoda, mas também a lembrança de que um dia estaremos naquela situação!
Ah... ai! E a dengue? É de suma importância, pois esta é a suspeita principal do psicólogo! A dengue mata! Mas, afinal, o cigarro mata, a cachaça mata, o conservante mata e o colesterol mata! Contudo, as industrias de fumo, álcool e enlatados continuam faturando! E quem fatura com a dengue? A dengue (doença) é causada pelo dengue - um arbovírus da família Flaviridae e transmitida às pessoas através de um hospedeiro intermediário, um mosquito preto com pintas brancas, chamado “Aedes aegypti”. Assim que o vírus infecta o sujeito, ele se instala em suas glândulas salivares e em seu intestino. Os ovos do inseto resistem até um ano em ambiente seco, só esperando aquele pouquinho d’água que é a sua grande chance de vida! E a doença? A doença é aquela situação que nos faz regredir, voltar a um estado infantil em que necessitamos de cuidados especiais, voltamos a ser bebês: manhosos e “dengosos” mesmo! Daí fazemos aquela carinha de “mamãe me ama”, “quero o colo e o seio quentinhos” e um “porto seguro” longe dessa doença! Até aí seria acolhedor termos todas as atenções voltadas para nós, os doentinhos. Mas, e a dor? Éééé... com a doença vem o medo da dor... ai, a dor! Essa famigerada sádica que nos leva ao sofrimento! Por que a gente não pode ter só o prazer, não é mesmo? Senha 585, senha 585! O quê, aonde, quando? Que hora é essa? Cinco da tarde! O psicólogo havia chegado ali as oito da matina! Que coisa! Será que dormiu ou foi um momento de êxtase analítico? O psicólogo quer ir embora... esperou demais e, quem sabe, em casa dormindo e bebendo muita água aconteça o resgate de sua adorada homeostase.

1 Pensadores:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny

 
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